sexta-feira, 31 de agosto de 2007

viva o anônimo!

Ontem, assisti a um interessante documentário sobre o cineasta paraibano Vladimir Carvalho. Chama-se "Vladimir Carvalho: conterrâneo velho de guerra".
Numa das declarações dele reunidas no filme, ele fez uma interessante analogia entre a trajetória do início de sua vida profissional e o objeto de atenção de seus inúmeros filmes. E o que aproxima as duas dimensões envolvidas em tal analogia é a condição coadjuvante dos personagens envolvidas.
Quando começava a pensar e fazer cinema, sua intenção era ir aos lugares onde estivesse se desenvolvendo importantes movimentos de vanguarda cinematográfica. Assim, ele sai da Paraiba rumo à Bahia e depois ao Rio. Em ambos os casos, ao chegar ele percebia que os movimentos em suas fases mais essenciais já tinham ocorrido. Quando ele chega ao Rio, por exemplo, se dá o golpe de 64 que diminui e muito as possibilidades do Cinema Novo. Engraçado ele se perguntando: "será que eu vou sempre ser coadjuvante, tô sempre atrasado..."
Depois de alguns ocorridos cheios de imponderáveis e sorte, ele é convidado a dar aulas na UnB de Cinema. E , feliz da vida, vai! Então, passa a tentar retratar os aspectos de vida desse grande coadjuvante da história que é o homem comum, o homem pobre do povo em suas mais sólidas e particulares demonstrações de força.
Interessantíssimo pensar nisso: na verdade, o grande elenco desse palco mundial não é retratado. Às vezes, vive o mundo sem deixar vestígios escritos, por exemplo.
E a gente vive num tempo doido em que cada vez menos gente quer ser anônimo. Na era do espestáculo, da imagem, vive-se a ditadura do estrelato.
Lembro de um filme "Amantes constantes" em que a um cara é perguntado qual é seu sonho para vida profissional. Ele responde que decidiu ser pintor. O interlocutor se anima identificando ali um jovem artista e pergunta pelas suas influências. E ele diz: "Não, mas eu quero ser pintor de parede. Quero ser anônimo." A citação ganhou as cores que a minha memória deu. Evidente que não lembro dela assim com tanta perfeição.
Rapaz,
Tem umas horas que bate uma vontade de escrever, né não? Pelos mais diversos motivos!
Um filme que se assiste, um céu azul que faz brilhar a vida, um bom beijo da bela amada.
Hoje, o que me fez escrever foi uma doce brisa perfumada que entrou na Baía de Guanabara, vinda de não sei onde e indo pra onde eu não sei.
Tudo ficou azul no dia nublado, tudo silêncio na selva da urbe. Os chatos se foram, e os cães foram libertados das coleiras das madames cheias de dignidade e decência. Os homens sérios se coçaram.