segunda-feira, 14 de setembro de 2009

na luta sempre

Esse post não é para desanimar ninguém! Todo mundo deve militar pelas causas que considerar justas. Eu tenho as minhas.
O 11 de setembro passou e , em conversas com minha amada, lembrei de um fato ocorrido em Porto Alegre em 2003. O acontecimento não me desanimou e nem me fez deixar de olhar para o que eu acho que tem importância.
Sentado para ouvir as palavras do Noam Chomsky, tinha ao meu lado uma senhora chilena. Falei rapidamente sobre o 11 de setembro chileno e que teríamos que relembrá-lo sempre para que coisas como aquela não mais se repetissem.
A senhora, militante de esquerda, me perguntou seriamente: "que 11 de setembro?"
Imagino que isso tenha sido fruto de desatenção momentânea dela, mas o militantismo atrapalha, por vezes, a visão clara sobre muitos fenômenos no mundo.

sábado, 25 de julho de 2009

a democracia e a volta do Tigre

Se as velhas judias russas, que citei aqui há algum tempo, ainda não saíram da floresta para onde foram fugidas da 2a. Guerra Mundial (e há motivos para isso!), o ex-guerrilheiro José Geraldo da Costa, integrante da ALN de Marighela, só agora dá seu voto de confiança à democracia brasileira e volta ao país.
José Geraldo saiu do Brasil em 1969, fugindo da repressão da ditadura brasileira. Exilou-se na Suécia e por lá ficou esse tempo todo a observar os movimentos da política institucional brasileira.
Lembro que, em 2005, cheguei a vislumbrar a possibilidade de um novo golpe da direita no Brasil. O episódio do mensalão reacendeu a chama da oposição entre direita e esquerda no Brasil e acordou velhos golpistas. Peço ao leitor que tente compeender o ponto de vista do José Geraldo da Costa, conhecido como Tigre pela esquerda armada brasileira, e seu temor das instituições nacionais.
O golpe em Honduras, e outros movimentos direitistas na Bolívia, Venezuela, Equador, Nicarágua, apontam que a democracia exige defesa. Sem defesa, ela cai.
Tomara que a volta desse velho esquerdista seja um signo de nosso fortalecimento democrático!
Para fazer justiça, posto aqui o texto que me chamou a atenção para o fato citado. Foi escrito pelo nortista Edislson Martins e publicado no endereço http://blogdaamazonia.blog.terra.com.br/2009/07/24/nao-e-honesto-rir-da-loucura-do-tigre/:

No começo desta semana -eu e a torcida do Flamengo- tomamos conhecimento, via todas as mídias, da chegada ao país, do último exilado político do Brasil, o ex-marinheiro Antônio Geraldo da Costa.

Membro da Aliança Libertadora Nacional (ALN), criada por Carlos Marighela, Antônio, hoje com 75 anos, fazia parte da tropa de choque da organização. Tropa de choque, o chamado grupo armado, era o pessoal da pesada, das ações de desapropriação, do recolhimento de recursos -assaltos a banco.

Hoje fica difícil, quase impossível, passar a idéia do que isso significava, ainda mais tendo o Marighela no Comando.

Até aí nada de novo. Novo é a cobertura que a mídia, nacional e a estrangeira, está dando a esse retorno, e por uma curiosa singularidade; apesar de decorridos 40 anos desde sua fuga do Brasil, e tendo a Ditadura acabado há quase 25 anos, ele se recusava a retornar. Desconfiava que os tempos de terror e a longa noite prosseguiam, que a Ditadura continuava viva. Leitura imediata; louco de carteirinha.

Nada mais correto; aparentemente.

Ele pode alegar, caso venha a ser indagado, e não faltará quem o faça, que “gato escaldado tem medo de água fria”. Os anos de clandestinidade devem lhe ter ensinado essa dura verdade.

Antônio pode, ainda na mesma linha de sua defesa, recordar que “o seguro morreu de velho, mas o desconfiado está vivo.” Só que vai, em verdade, enfatizar mais ainda a desconfiança geral. A opinião pública, hoje classificada em a,b,c, e d, conforme aferição nada humilde dos marqueteiros, não prima pela generosidade.

Salvo, dizem novamente os marqueteiros, no caso da aprovação do Governo Lula, blindado curiosamente pela película invisível do teflon. Mas isso é outra história.

Seus companheiros de luta no passado, os que sobreviveram, entre os quais devem haver muitos malucos, podem até mesmo recorrer ao militar japonês que até recentemente mantivera-se escondido, pelas mesmas razões, acreditando não ter acabado a Segunda Grande Guerra.

De tal forma que se amenize essa leitura, e não venha Antônio a ser classificado simplesmente, sumariamente como um paranóico transitado em juízo, um perseguido eterno, um maluco fora dos eixos, recorrendo a esta redundância.

Como um ex-marinheiro - pode-se questionar, sem contudo julgar, pelo amor de Deus - depois das formas mais abomináveis de covardia humana que é a tortura, da qual ele foi vítima exponencial, consegue escapar do trucidamento, vai para a Suécia, em l969, casa, tem filhos, constitui família e 40 anos depois continua vivendo sob o terror da perseguição?

Terror tão cruel que mesmo tendo sido golpeado, vamos reconhecer que de forma definitiva nunca, continua dobrando sua alma, sua espinha, toldando seus sentimentos mais simples. Não vamos nem mencionar Frei Tito, porque aí essa história fica mais perversa ainda.

A leitura do cidadão comum, do sujeito que na esquina comprou o jornal esta semana, leu a notícia, ou do outro surpreendido pelo telejornal, não pode ser diferente; esse cara virou maluco de carteirinha. Que fazer?

O que eles não sabem é que Antônio, como tantos outros companheiros de seu tempo, apostaram, e apostaram tudo, alguns morreram, outros como ele ficaram eternamente marcados, apostaram no fim do terror.

E não foi luta em vão, como querem alguns, até com certa leviandade.

Perderam? Talvez sim, talvez não. Se formos contabilizar as vitórias pessoais perderam tudo, ou quase tudo; família, amigos, país, memórias, e quem sabe uma juventude, senão uma vida inteira. Catalogar as perdas é tarefa dolorosa, e nem vale a pena tentar fazê-lo.

E, no entanto, nos deram este país maluco de hoje, onde apesar de todos os percalços, dos Sarney, dos Romero Jucá, dos Collor, dos Renan Calheiros, da corrupção impune e generalizada, de um PT que nos faz corar, mesmo assim se respira e pratica a Liberdade.

E só sabem o que isso significa os que viveram, dolorosamente, sua interdição.

E onde entro eu na porra dessa história? A indagação é correta, não é descabida. É que vendo as fotos de Antônio, as impressas e as dos telejornais, fui picado pelo diabo da memória, memória cruel, tantas vezes.

Paro, neste momento, até então aboletado num banco mixuruca, de escrever veleidades literárias, bobagens menores, platitudes, textos sem eira e nem beira. E não tenho feito outra coisa, ultimamente, e com tanto prazer.

Só que o diabo das fotos e imagens voltam a infernizar os meus olhos, e já agora minha memória.

Caceta, matei a charada. Antônio Geraldo da Costa era o Tigre, codinome de guerra, um neguinho moleque, ruidoso, que hospedei, melhor dizendo homiziei em meu conjugado da rua Sousa Lima, em Copacabana, nos idos de 68 e 69, e todo o seu grupo.

Eu era um abestado estudante da Filosofia, da Universidade do Brasil, atual UFRJ, com os olhos abertos e nenhuma história para contar, como faço agora, perplexo diante do mundo, recém-chegado do Acre, dos confins da Amazônia, onde o vento fazia a curva e o diabo teimava sempre aparecer.

Apesar de toda essa alienação, estupidez e caipiragem, tive o privilégio de hospedar Tigre e seu grupo, que passavam os dias realizando assaltos armados, invadindo penitenciárias e soltando guerrilheiros presos, elaborando mapas, estudando rotas de fuga, enfim, infernizando a vida homens que faziam a ditadura caminhar e merecer esse nome.

À noite dormia com eles todos, não enxergando, nem entendendo direito em que tudo aquilo iria dar. Ninguém deixava o Acre nos anos 50, e se deparava com as garras do terror, impunemente.

Ligava o rádio, sim, aquela era a época do rádio, e lá ouvia os âncoras das emissoras falando da crueldade, da barbaridade, de Tigre e seus parceiros.

Ria sozinho, até porque esse era um riso que não se podia dividir com ninguém, e pensava; será que a verdade é filha do tempo? Não era. Naqueles tempos a verdade era filha do Terror.

Dos riscos eu sabia, só não sabia a estupidez que é a tortura, onde logo depois de me despedir de Tigre e sua animada gente, eu também conheceria. De forma também nada generosa.

Enfim, só pra terminar. Ninguém tem o direito de rir da loucura de Tigre. Sua loucura é a loucura de Dom Quixote, do Rei Lear, a loucura dos visionários, a loucura que torna o homem possível, enfim. A loucura que sem ela, certamente a vida não teria sentido.

Sem ela talvez tivéssemos, quem sabe, até hoje, uma ditadurazinha amena, com alguns direitos, que o mundo já tanto nos mostrou, mas sem nunca deixar de ser Ditadura. A única diferença, talvez, é que os políticos lá atrás citados, não tivessem que padecer alguns aborrecimentos pontuais, constrangimentos eventuais, como agora vem acontecendo.

Só pra terminar, novamente; não vale a pena, não é honesto, rir da loucura do Tigre.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Marketing: o blog é um sucesso!

O blog fez um teste: um pouco para que João da Ega, carente e saudoso, tivesse um motivo para se rejubilar, outro tanto para medir o que provoca mais (o escrito ou o não escrito?). Parece que o não escrito ganhou pontos. De toda maneira, a graça é escrever. Não tivemos a Bienal do Vazio?
Dessa forma, e depois do vazio, a promessa: um post por semana!
um abraço aos amigos do Ega!
João da Ega
ps: sabe o que o Fluminense falou pro Botafogo? Te vejo na segunda!!!

domingo, 31 de maio de 2009

anotações fortuitas: as velhas russas

Anotação na manhã de um dia chuvoso em Brasília:

Penso em duas velhas mulheres fugitivas da 2a. Guerra Mundial ainda escondidas em floresta isolada na Rússia. Sabem que ainda não se deu o fim das batalhas entre os exércitos, e das derrotas de uns e das vitórias de outros. Judias, fogem de todo contato possível com outros seres humanos. Uma delas, entretanto, está doente. É o início de uma mudança no mundo.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Na República dos Broches, há também os criativos

Os observadores do Blog do Ega espalhados pela rede indicaram um blog desses que não se pode perder: é o blinkyoureyestwice.blogspot.com ! Achei muito legal! O Link está aqui ao lado!

A poluição de Brasília me impede de ter idéias! Parece que a fumaça não sobe.

De bom: dei um abraço no Lula! Acho que essa é para contar pros netos!

De ruim: a Azul ainda não faz Brasília-Rio!

Um outro lançamento na rede merece lembrança: é o www.ovascoemeu.com.br . Trata-se de campanha do Vasco da Gama para atrair novos sócios aos quadros do clube. A meta é atingir 100.000 novos em 2009. Em cinco dias, quase 20.000 se associaram, mas eu não. Meu objetivo pessoal é ser o centésimo milésimo dessa nova leva. Isso é uma revolução na vida do clube!

E o que é uma Revolução? Para Guedáli, personagem do Isaac Bábel no conto "Guedáli", "... Revolução é alegria. E alegria não gosta de ter órfãos pela casa. O homem faz boas obras. A Revolução é uma boa obra de homens bons. Mas os homens bons não matam. Então, quer dizer que quem faz a Revolução são os homens maus." Será? O Bábel, grande revolucionário, foi condenado à prisão e à morte na Sibéria pelo Stalin.

Hoje ouvi uma história, não sei se verídica, de um colega a respeito do Stálin: num determinado dia, um general do Exército Vermelho, observando alguns desvios de Stálin, decide matá-lo. Rompe o cerco da segurança do ditador e entra no seus aposentos. Quando vai concluir a obra, Stálin diz que o morto ali não será ele próprio, mas a própria Rússia, a Revolução Bolchevique, o Estado Russo. Complementa ainda apontando o futuro sombrio que já aguardava o general. Atarantado, o sujeito suicida-se.

Saudações latino-americanas porque amazonenses!

sábado, 25 de abril de 2009

Na República dos Broches, há também os corajosos

Esse post é mais uma comemoração, comemoração do dia em que um brasileiro falou verdades ao Presidente do STF. O Ministro Barbosa disse poucas e boas ao figurão do Mato Grosso e ainda foi curtir os cumprimentos do povão pelas ruas do Rio: da caminhada do Bar Luiz, no Largo da Carioca (acho que é por ali) até a Avenida Rio Branco, o Ministro foi abraçado, fotografado, aplaudido. Maravilha!

Na verdade, o atual texto ia nascendo de mais observações sobre a vida na capital brasileira. Um deles, o uso ostensivo de broches por servidores do Estado, se destaca entre os mais curiosos. É necessário apontar que só os servidores em altos cargos comissionados (na verdade, nem tão altos) usam os tais brochinhos. É muito interessante esse país: republicano, democrático, mas cheio de simbolos que contrariam seus princípios constitucionais.

Pois bem, quem chegar a Brasília e notar que engravatados costumam usar broches até nas filas dos supermecados (sintomático, não?), deve lembrar que os pequenos acessórios são um dos grandiosos símbolos de sucesso pessoal-profissional-político em Brasília.

Mesmo em viagens para longe do DF, onde a mais fácil identificação para o acesso aos Ministérios não é o essencial e nem pode ser usada como argumento, os republicanos usuários não esquecem os seus amados broches.

Deve existir nesses sites de relacionamentos comunidades do tipo "comunidade dos broches unidos" e coisas assim.

Não quis fazer nenhuma grande investigação sobre isso, mas uma declaração de um colega de trabalho resume bem o espírito da coisa: "... mas o Ministro não pode usar crachá: é muito feio". Aqui todo mundo sonha com dias melhores na vida buscando seu brochinho.

sábado, 4 de abril de 2009

o tempo

No diálogo com um homem do futuro sem nome, Eudoro Acevedo, personagem de Borges, assim fala de seu tempo:

“No meu curioso ontem, prevalecia a superstição de que entre cada tarde e cada manhã acontecem fatos que é uma vergonha ignorar. O planeta estava povoado de espectros coletivos, o Canadá. o Brasil, o Congo Suíço e o Mercado Comum. Quase ninguém conhecia a história prévia daqueles entes platônicos, mas, sim, os mais ínfimos pormenores do último congresso de pedagogos, a iminente ruptura de relações e as mensagens que os presidentes mandavam, elaboradas pelo secretário do secretário com a prudente imprecisão que era própria do gênero. (...) No ontem que me tocou, as pessoas eram ingênuas; acreditavam que uma mercadoria era boa porque assim o afirmava e repetia o seu próprio fabricante. Também eram freqüentes os roubos, embora ninguém ignorasse que a posse de dinheiro não dá maior felicidade nem maior tranqüilidade.” (Borges, Jorge Luis “A utopia de um homem que está cansado in: O Livro de Areia)

segunda-feira, 2 de março de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Os ares da cidade: o caso (complicado) de Brasília

Tenho estado em Brasília nesses meses de janeiro e fevereiro, mais nela do que em qualquer outra cidade. Depois de longo tempo sem vir à cidade, cheguei numa quinta-feira muito calorenta e chuvosa que me lembrou as longas tardes de chuva do verão amazônico.

A despeito dessa aparente identificação, Brasília não lembra nenhuma das cidades onde já estive: a intenção de seus planejadores parece ter sido mesmo essa. Hoje, quase 49 anos depois de fundação da cidade, a capital do Brasil ainda carrega um certo ar rural. A terra vermelha do cerrado que cerca a cidade faz-se presente e espalha-se pelas ruas asfaltadas e pelos prédios espetaculares. É como se a cidade tivesse sido construída há poucos dias e inaugurada de maneira afoita: carroças pelo Eixo Monumental e pelas grandes vias das Asas Sul e Norte reforçam essa impressão.

Mais do que esse quê rural o impactante aqui é mesmo o vazio nas ruas, o que não significa que as pessoas não circulem: na verdade, é possível ver os brasilienses pelas ruas. A especificidade aqui é que quando andam a pé circulam pelas Super-Quadras com um certo ritmo e intensidade próprios dos moradores de um condomínio. A partir das 8 da noite, entretanto, as calçadas que beiram as grandes vias recebem pouquíssimos visitantes. Mesmo os corajosos fãs de caminhadas terminam ficando nas suas casas. A cidade é do cerrado: de noite, é fria!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

mais uma de Amazonino: quando o certo é o errado

Como venho acompanhando as discussões a respeito do processo de homologação da posse de Amazonino Mendes à Prefeitura de Manaus e os esforços da corajosa juíza amazonense Maria Eunice do Nascimento para impugná-la, posto aqui uma matéria publicada pela Folha de São Paulo. Copiei do site do jornal, cujo endereço é www.folha.com.br
Trata-se, como se vê, de mais uma "derrapada" do prefeito eleito de Manaus. É daquelas coisas que não são crimes, mas que devem ser evitadas pois , no mínimo, polêmicas.
Leiam e tiram suas conclusões.
Obrigado a quem me avisou sobre a notícia!!



13/01/2009 - 08h01
Amazonino dá cargo para filha de juiz do TRE-AM
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JOÃO CARLOS MAGALHÃES
da Agência Folha, em Belém

O prefeito de Manaus (AM), Amazonino Mendes (PDT), nomeou como diretora-presidente de uma fundação municipal uma filha do presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Amazonas, cujos juízes decidirão sobre um recurso que tenta impedir a cassação do prefeito.
O desembargador Ari Moutinho julgará o recurso se houver empate entre os outros seis juízes do tribunal --usando o chamado "voto de minerva".

Martha Moutinho, filha do juiz, chefiará a Fundação Dr. Thomas, que abriga e promove assistência a idosos. Segundo um currículo enviado à reportagem pela assessoria da prefeitura, ela é formada em psicologia e em direito, mas não possui nenhuma experiência profissional.

Amazonino, que teve o registro cassado em primeira instância em razão de uma acusação de compra de votos durante as eleições do ano passado, só conseguiu ser diplomado e tomar posse depois de o TRE deferir um pedido liminar que obrigava a apreciação de recursos interpostos pela defesa do prefeito depois da sentença.

Segundo a juíza Maria Eunice do Nascimento, responsável pela cassação, os recursos haviam sido protocolados fora do prazo. Por isso, ela se recusou a apreciar os embargos declaratórios. Neles, a defesa de Amazonino pedia que ela explicasse pontos de sua argumentação.

Nascimento manteve a mesma posição mesmo depois que o TRE teve uma interpretação diversa da sua, o que criou uma celeuma entre as duas instâncias e culminou com o afastamento temporário dela da função. Ontem, a Folha ligou para seu celular e para sua casa, mas a juíza estava em Brasília.

"É difícil afirmar que houve um jogo de interesses, mas é no mínimo estranho [a nomeação]", afirmou o promotor eleitoral Jorge Michel Ayres.

Durante o processo, uma semana antes da diplomação ocorrida no mês passado, a Promotoria Eleitoral de Manaus entrou com um pedido de suspeição de Ari, pedindo o afastamento do juiz do caso.

O argumento usado à época era que outro filho do presidente do tribunal, Ari Moutinho Filho, era suplente na Câmara dos Deputados do vice de Amazonino, Carlos Souza (PP), então deputado federal.

Portanto, disseram os promotores, ele se beneficiaria diretamente da diplomação do prefeito e de Souza. O pedido não foi aceito. Ari Moutinho Filho acabou sendo escolhido para um cargo no TCE (Tribunal de Contas do Estado) amazonense no final de dezembro, o que pôs fim ao objeto do pedido de suspeição.

À época, a nomeação de Martha ainda não havia sido divulgada. "Agora, vamos analisar se devemos fazer o pedido de novo", afirmou Ayres.

Desde o início do ano, Amazonino vem enfrentando críticas por colocar em vagas de primeiro escalão parentes seus ou de outros membros da administração. Ele nomeou uma filha para a Secretaria de Cultura e Turismo, a irmã do vice para a Subsecretaria de Assistência Social e Cidadania e a mulher de um secretário especial como diretora da ManausPrev _órgão que cuida da previdência da prefeitura.

A assessoria da prefeitura nega irregularidades nas nomeações. Afirma que todas se pautaram por "critério técnico". Ontem, a Folha deixou recados para Ari e Souza, mas até a conclusão desta edição nenhum dos dois ligou de volta. Martha também não foi localizada para dar sua versão.