segunda-feira, 7 de abril de 2008

Milton Hatoum

Sempre me pego refletindo a respeito de grandes figuras do Brasil e, às vezes, do meu estado natal. O Amazonas não tem uma grande quantidade de escritores renomados no país, mas há um autor contemporâneo que me encanta. Trata-se de Milton Hatoum. Gosto muito de sua escrita, e da complexa Manaus que ele faz mundo com suas palavras. Os personagens manauaras e amazoneneses circulam por suas tramas como altivos senhores do mundo. Todos somos reis: daí a importância de contar o humano no que tem de universal a partir do local.
Do ponto de vista pessoal, o cheiro da Manaus que o Hatoum descreve é aquele que eu sinto todas as vezes em que vou por lá. É uma mistura de galhardia e tristeza, fausto e miséria, pureza e podridão. Essa Manaus eu penso que carrego comigo.
Nos últimos dias, li o último livro publicado por ele: a novela "Órfãos do Eldorado". Gostei muito do texto e achei interessantíssima a epígrafe de abertura do livro: é um trecho de um poema de Konstantino Kafávis. Reproduzo uma pequena parte aqui:

"Não encontrarás novas terras, nem outros mares.
A cidade irá contigo. Andarás sem rumo.
Pelas mesmas ruas. Vais envelhecer no mesmo bairro.
Teu cabelo vai embranquecer nas mesmas casas.
Sempre chegarás a essa cidade. Não esperes ir a outro lugar.
Não há barco nem caminho pra ti."