terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Massacre palestino

Esse post foi originalmente publicado no blog do Idelber Avelar, www.idelberavelar.com. Achei adequado divulgar a carta de um ex-político israelense sobre a dinâmica dos ataques de Israel a Palestina e sobre o papel que os líderes internacionais podem ter nesse processo:

Carta aberta de Uri Avnery a Barack Obama

As humildes sugestões que se seguem são baseadas nos meus 70 anos de experiência como combatente de trincheiras, soldado das forças especiais na guerra de 1948, editor-em-chefe de uma revista de notícias, membro do parlamento israelense e um dos fundadores do movimento pela paz:

1)No que se refere à paz israelense-árabe, o Sr. deve agir a partir do primeiro dia.

2)As eleições em Israel acontecerão em fevereiro de 2009. O Sr. pode ter um impacto indireto, mas importante e construtivo já no começo, anunciando sua determinação inequívoca de conseguir paz israelo-palestina, israelo-síria e israelo-pan-árabe em 2009.

3)Infelizmente, todos os seus predecessores desde 1967 jogaram duplamente. Apesar de que falaram sobre paz da boca para fora, e às vezes realizaram gestos de algum esforço pela paz, na prática eles apoiavam nosso governo em seu movimento contrário a esse esforço.

Particularmente, deram aprovação tácita à construção e ao crescimento dos assentamentos colonizadores de Israel nos territórios ocupados da Palestina e da Síria, cada um dos quais é uma mina subterrânea na estrada da paz.

4)Todos os assentamentos colonizadores são ilegais segundo a lei internacional. A distinção, às vezes feita, entre postos “ilegais” e os outros assentamentos colonizadores é pura propaganda feita para mascarar essa simples verdade.

5)Todos os assentamentos colonizadores desde 1967 foram construídos com o objetivo expresso de tornar um estado palestino – e portanto a paz – impossível, ao picotar em faixas o possível projetado Estado Palestino. Praticamente todos os departamentos de governo e o exército têm ajudado, aberta ou secretamente, a construir, consolidar e aumentar os assentamentos, como confirma o relatório preparado para o governo pela advogada Talia Sasson.

6)A estas alturas, o número de colonos na Cisjordânia já chegou a uns 250.000 (além dos 200.000 colonos da Grande Jerusalém, cujo estatuto é um pouco diferente). Eles estão politicamente isolados e são às vezes detestados pela maioria do público israelense, mas desfrutam de apoio significativo nos ministérios de governo e no exército.

7)Nenhum governo israelense ousaria confrontar a força material e política concentrada dos colonos. Esse confronto exigiria uma liderança muito forte e o apoio generoso do Presidente dos Estados Unidos para que tivesse qualquer chance de sucesso.

8)Na ausência de tudo isso, todas as “negociações de paz” são uma farsa. O governo israelense e seus apoiadores nos Estados Unidos já fizeram tudo o que é possível para impedir que as negociações com os palestinos ou com os sírios cheguem a qualquer conclusão, por causa do medo de enfrentar os colonos e seus apoiadores. As atuais negociações de “Annapolis” são tão vazias como as precedentes, com cada lado mantendo o fingimento por interesses politicos próprios.

9)A administração Clinton, e ainda mais a administração Bush, permitiram que o governo israelense mantivesse o fingimento. É, portanto, imperativo que se impeça que os membros dessas administrações desviem a política que terá o Sr. para o Oriente Médio na direção dos velhos canais.

10)É importante que o Sr. comece de novo e diga-o publicamente. Idéias desacreditadas e iniciativas falidas – como a “visão” de Bush, o “mapa do caminho”, Anápolis e coisas do tipo – devem ser lançadas à lata de lixo da história.

11)Para começar de novo, o alvo da política americana deve ser dito clara e sucintamente: atingir uma paz baseada numa solução biestatal dentro de um prazo de tempo (digamos, o fim de 2009).

12)Deve-se assinalar que este objetivo se baseia numa reavaliação do interesse nacional americano, de remover o veneno das relações muçulmano-americanas e árabe-americanas, fortalecer os regimes dedicados à paz, derrotar o terrorismo da Al-Qaeda, terminar as guerras do Iraque e do Afeganistão e atingir uma acomodação viável com o Irã.

13)Os termos da paz israelo-palestina são claros. Já foram cristalizados em milhares de horas de negociações, colóquios, encontros e conversas. São eles:

a) estabelecer-se-á um Estado da Palestina soberano e viável lado a lado com o Estado de Israel.
b) A fronteira entre os dois estados se baseará na linha de armistício de 1967 (a “Linha verde”). Alterações não substanciais poderão ser feitas por concordância mútua numa troca de territórios em base 1: 1.
c) Jerusalém Oriental, incluindo-se o Haram-al-Sharif (o “Monte do Templo”) e todos os bairros árabes servirão como Capital da Palestina. Jerusalém Ocidental, incluindo-se o Muro Ocidental e todos os bairros judeus, servirão como Capital de Israel. Uma autoridade municipal conjunta, baseada na igualdade, poderia se estabelecer por aceitação mútua, para administrar a cidade como uma unidade territorial.
d) Todos os assentamentos colonizadores de Israel – exceto aqueles que possam ser anexados no marco de uma troca consensual – serão esvaziados (veja-se o 15 abaixo)
e) Israel reconhecerá o princípio do direito de retorno dos refugiados. Uma Comissão Conjunta de Verdade e Reconciliação, composta por palestinos, israelesnses e historiadores internacionais estudará os fatos de 1948 e 1967 e determinará quem foi responsável por cada coisa. O refugiado, individualmente, terá a escolha de 1) repatriação para o Estado da Palestina; 2) permanência onde estiver agora, com compensação generosa; 3) retorno e reassentamento em Israel; 4) migração a outro país, com compensação generosa. O número de refugiados que retornarão ao território de Israel será fixado por acordo mútuo, entendendo-se que não se fará nada para materialmente alterar a composição demográfica da população de Israel. As polpuldas verbas necessárias para a implementação desta solução devem ser fornecidas pela comunidade internacional, no interesse da paz planetária. Isto economizaria muito do dinheiro gasto hoje militarmente e a partir de presentes dos EUA.
f) A Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza constituirão uma unidade nacional. Um vínculo extra-territorial (estrada, trilho, túnel ou ponte) ligará a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
g) Israel e Síria assinarão um acordo de paz. Israel recuará até a linha de 1967 e todos os assentamentos colonizadores das Colinas de Golã serão desmantelados. A Síria interromperá todas as atividades anti-Israel, conduzidas direta ou vicariamente. Os dois lados estabelecerão relações normais.
h) De acordo com a Iniciativa Saudita de Paz, todos os membros da Liga Árabe reconhecerão Israel, e terão com Israel relações normais. Poder-se-á considerar conversações sobre uma futura União do Oriente Médio, no modelo da União Européia, possivelmente incluindo a Turquia e o Irã.

14)A unidade palestina é essencial. A paz feita só com um naco da população de nada vale. Os Estados Unidos facilitarão a reconciliação palestina e a unificação das estruturas palestinas. Para isso, os EUA terminarão com o seu boicote ao Hamas (que ganhou as últimas eleições), começarão um diálogo político com o movimento e sugerirão que Israel faça o mesmo. Os EUA respeitarão quaisquer resultados de eleições palestinas.

15)O governo dos EUA ajudará o governo de Israel a enfrentar-se com o problema dos assentamentos colonizadores. A partir de agora, os colonos terão um ano para deixar os territórios ocupados e voluntariamente voltar em troca de compensação que lhes permitirá construir seus lares dentro de Israel. Depois disso, todos os assentamentos serão esvaziados, exceto aqueles em quaisquer áreas anexadas a Israel sob o acordo de paz.

16)Eu sugiro ao Sr., como Presidente dos Estados Unidos, que venha a Israel e se dirija ao povo israelense pessoalmente, não só no pódio do parlamento, mas também num comício de massas na Praça Rabin em Tel-Aviv. O Presidente Anwar Sadat, do Egito, veio a Israel em 1977 e, ao se dirigir ao povo de Israel diretamente, mudou em tudo a atitude deles em relação à paz com o Egito. No momento, a maioria dos israelenses se sente insegura, incerta e temerosa de qualquer iniciativa ousada de paz, em parte graças a uma desconfiança de qualquer coisa que venha do lado árabe. A intervenção do Sr., neste momento crítico, poderia, literalmente, fazer milagres, ao criar a base psicológica para a paz.


(esta é uma carta aberta escrita por Uri Avnery, 85 anos, ex-deputado do Knesset, soldado que ajudou a fundar Israel em 1948 e que há décadas milita pela paz. A tradução ao português é de Idelber Avelar. O obrigado pelo envio do link vai ao Daniel do Amálgama. O pedido de divulgação vai a todos os que desejam uma paz duradoura, nos termos já reconhecidos pela comunidade internacional).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ministros do STF: Marco Aurélio Mello

O que agradará mais o ministro do STF Marco Aurélio Mello: estar hoje na capa de todos os jornais ou atrasar alguns meses uma decisão legítima do Governo brasileiro? Ou será que as duas coisas?

O relator do processo da demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol, Carlos Ayres Britto, ainda tentou dissuadi-lo, mas não adianta. Em minha infância, tive um amigo na escola que chamava-se José Augusto. Muito gentil, tinha um defeito mais que aparente: toda vez que perdia um jogo de bola, diferente do que o costume apontava, recusava-se a sair do espaço do jogo. Assim, sem mais nem menos. Usava o estranho método de deitar-se na quadra impedindo que outros pudessem jogar. Só depois de muita reclamação e a argumentação de professores, ele saía.

Será que José Augusto e Marco Aurélio são parentes? O primeiro também era Mello!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vasco: o blog é vascaíno!

Nesse domingo, o Vasco foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro. Como alguns posts anteriores apontam, esse blog é vascaíno. Não é necessário dizer que foi triste o dia. Mas arrisco a dizer que não foi tanto! Não sei se por achar que ser rebaixado não é a pior coisa do mundo a acontecer com um grande clube ou por ter enxergado essa possibilidade ir crescendo com o desenrolar do campeonato. Alguns sinais apontavam a queda!
O embate político entre os retrógrados euriquistas e a nova diretoria realçou toda a fragilidade da estrutura de futebol do clube. A nova diretoria que capitaneou uma mudança na estrutura política vascaína foi, ao longo desse ano, sabotada pelas peças remanescentes da estrutura antiga de Eurico Miranda. Sem tempo e dinheiro para reagir a isso, a tarefa do Dinamite e colaboradores ficou mais complicada ainda.
O time era realmente muito ruim. A zaga seria reserva no glorioso Mirante do Amazonas: não estaria no nível do nosso beque Diego.
O rebaixamento veio. Agora é virar o jogo! Acho que isso pode ser uma refundação do clube, um processo ritual (a série B) que pode culminar no ressurgimento de um gigante do futebol, tendo como um dos pilares a aproximação entre quem é Vasco e o clube.
Noutro dia, escrevi sobre o livro "Veneno Remédio" do José Miguel Wisnik. A idéia que ele desenvolve do princípio básico do futebol é fabulosa e eu, mais uma vez, reproduzo aqui: "O futebol pode ser visto como um sistema simbólico que traciona o imaginário colocando-o aparentemente à beira de um precipício: o real da perda". Ou seja, quem joga está sujeito a ganhar e a perder.
A perda da qual o autor trata, a derrota, pode ter também inúmeros significados. De quantas derrotas gloriosas o futebol é feito? De minha parte, a despeito das inúmeras vitórias e títulos que eu pude comemorar do Vasco (três Brasileiros, seis Cariocas, uma Libertadores, uma Mercosul, um Rio-São Paulo) desde a meninice, foi uma derrota que me fez perceber que era vascaíno. Eu era tão novo (devia ter uns cinco anos) que não lembro contra que time o Vasco jogava. Lembro simplesmente dos detalhes que me moviam: o Vasco precisava de um empate para passar à fase seguinte. Meu pai, eu e meu irmão assistíamos ao jogo pela pequena televisão do meu quarto. Cada um dos pequenos via o jogo de pé sobre as camas e o meu pai de pé entre eles. O jogo chegava perto do fim e a pressão do adversário era grande até que um chute despretensioso de um atacante rival vence o goleiro Acácio. Um frangaço! A partida já ia tão perto do final que nenhuma reação foi possível. Depois da saída de bola do meio-campo, o juiz apitava seu fim. Eu e meu irmão choramos! Meu pai tentava nos consolar, mas era inevitável: éramos vascaínos!
Foi assim que se fundou essa relação minha com o Vasco. Nasceu de uma perda, de uma dura derrota! Dessa forma, todas as derrotas doídas do Vasco são, em meu arsenal emotivo, reencenações um pouquinho mais equilibradas daqueles momentos. No domingo, sofri com mais uma!
Há, é claro, a parte boa de torcer para um clube, as vitórias. E se todas as derrotas são pequenas reinterpretações daquele dia trágico, as vitórias ora se aproximam à sensação do gol do Cocada em 88 sobre o Flamengo (nesse caso, os três choraram de novo, mas de alegria) ora aos momentos finais de uma vitória nossa sobre o Flamengo num Vivaldão, em Manaus, lotado de vascaínos felizes!
Outras derrotas virão! Mas as vitórias vêm também! Que venham mais agora!
Saudações cruzmaltinas,

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

matéria sobre a cassação de Amazonino Mendes

Encontrei essa matéria no site da Agência Amazônia de Notícias (www.agenciaamazonia.com.br). Já que os jornais em Manaus pouco informam sobre a questão, posto a matéria aqui e espero que algum amazonense leia.


AMANDA MOTA (*)
contato@agenciaamazonia.com.
MANAUS, AM — O prefeito eleito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), teve o registro de candidatura cassado pela presidente do pleito de 2008, juíza Maria Eunice Torres, por compra de voto. A sentença, que tem 40 páginas, foi publicada nesta quinta-feira (27) e também determina a cassação do registro para o vice de Amazonino, Carlos Souza (PP). Eles foram condenados ao pagamento de multa no valor de R$ 91.295, cada um. Ambos podem recorrer da decisão, tomada em primeira instância, no Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM).


Amazonino: suspeito de compra de votos, tem mandato cassado /ARQUIVO De acordo com a assessoria do prefeito eleito, em até três dias — prazo dado pelo tribunal, eles irão recorrer da decisão. O caso será levado à apreciação da Corte do TRE-AM. Segundo a assessoria da presidência do tribunal, caso o recurso apresentado pelos advogados de Amazonino Mendes não sejam aceitos e a sentença seja mantida, o segundo colocado nas eleições municipais deste ano em Manaus – o atual prefeito Serafim Corrêa (PSB) – poderá ser reempossado. Isso dependerá da decisão final que for anunciada e poderá, inclusive, chegar ao Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília (TSE).



A sentença da juíza Maria Eunice Torres foi embasada, de acordo com a Justiça Eleitoral, em informações relatadas pela Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal em Manaus, no Processo nº 24/2008.

Segundo as investigações policiais e também do Ministério Público, no dia 4 de outubro, véspera do primeiro turno das eleições municipais, representantes da coligação de Amazonino Mendes (Manaus, um Futuro Melhor) foram flagrados distribuindo requisições para abastecimento de combustível em um posto localizado na zona centro-sul da capital amazonense, em troca de voto e apoio no dia do pleito de 2008. Foram apreendidas 419 requisições, que continham a impressão da frase Eleições 2008 - Amazonino Mendes.

Com a decisão, Amazonino Mendes e Carlos Souza estão impedidos de receber o diplomas de prefeito e de vice por distribuição de vales-combustível – o que caracteriza captação ilícita de voto –, irregularidades constatadas no preenchimento dos cupons fiscais emitidos (o CNPJ não corresponde ao da coligação Manaus, um Futuro Melhor) e distorção do sentido da legislação eleitoral visando a legitimar as irregularidades.

(*) É repórter da Agência Brasil

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Amazonino Mendes cassado

A denúncia do Ministério Público de compra de votos por parte da chapa de Amazonino Mendes custou ao dito cujo a cassação da sua eleição a Prefeito de Manaus. Isso é para se comemorar muito!!!! Como havia apontado em outros posts, Manaus e o Amazonas já perderam muito tempo com esse e outros políticos retrógrados.
Incrível é a desatenção que os jornais amazonenses emprestaram ao fato. Parece tratar-se de um fato ligado a uma longínqua cidade, e não da capital do Estado do Amazonas. Para se ter idéia, meu pai, morador de Manaus e leitor assíduo de jornais, não sabia do fato.
Eu mesmo só soube a partir do comentário de uma grande amiga. Fui verificar nos jornais de Manaus e nada. Só indo aos jornais de outros estados, com pouco destaque, vê-se a notícia.
Como forma de fortalecer a divulgação dessa importantíssima notícia, adicionarei abaixo o link de matérias escritas na Folha de São Paulo e no Correio Braziliense. Aqui vão:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u472641.shtml

http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_3/2008/11/29/noticia_interna,id_sessao=3&id_noticia=53148/noticia_interna.shtml


Agora é torcer para que a justiça seja feita!