sábado, 25 de julho de 2009

a democracia e a volta do Tigre

Se as velhas judias russas, que citei aqui há algum tempo, ainda não saíram da floresta para onde foram fugidas da 2a. Guerra Mundial (e há motivos para isso!), o ex-guerrilheiro José Geraldo da Costa, integrante da ALN de Marighela, só agora dá seu voto de confiança à democracia brasileira e volta ao país.
José Geraldo saiu do Brasil em 1969, fugindo da repressão da ditadura brasileira. Exilou-se na Suécia e por lá ficou esse tempo todo a observar os movimentos da política institucional brasileira.
Lembro que, em 2005, cheguei a vislumbrar a possibilidade de um novo golpe da direita no Brasil. O episódio do mensalão reacendeu a chama da oposição entre direita e esquerda no Brasil e acordou velhos golpistas. Peço ao leitor que tente compeender o ponto de vista do José Geraldo da Costa, conhecido como Tigre pela esquerda armada brasileira, e seu temor das instituições nacionais.
O golpe em Honduras, e outros movimentos direitistas na Bolívia, Venezuela, Equador, Nicarágua, apontam que a democracia exige defesa. Sem defesa, ela cai.
Tomara que a volta desse velho esquerdista seja um signo de nosso fortalecimento democrático!
Para fazer justiça, posto aqui o texto que me chamou a atenção para o fato citado. Foi escrito pelo nortista Edislson Martins e publicado no endereço http://blogdaamazonia.blog.terra.com.br/2009/07/24/nao-e-honesto-rir-da-loucura-do-tigre/:

No começo desta semana -eu e a torcida do Flamengo- tomamos conhecimento, via todas as mídias, da chegada ao país, do último exilado político do Brasil, o ex-marinheiro Antônio Geraldo da Costa.

Membro da Aliança Libertadora Nacional (ALN), criada por Carlos Marighela, Antônio, hoje com 75 anos, fazia parte da tropa de choque da organização. Tropa de choque, o chamado grupo armado, era o pessoal da pesada, das ações de desapropriação, do recolhimento de recursos -assaltos a banco.

Hoje fica difícil, quase impossível, passar a idéia do que isso significava, ainda mais tendo o Marighela no Comando.

Até aí nada de novo. Novo é a cobertura que a mídia, nacional e a estrangeira, está dando a esse retorno, e por uma curiosa singularidade; apesar de decorridos 40 anos desde sua fuga do Brasil, e tendo a Ditadura acabado há quase 25 anos, ele se recusava a retornar. Desconfiava que os tempos de terror e a longa noite prosseguiam, que a Ditadura continuava viva. Leitura imediata; louco de carteirinha.

Nada mais correto; aparentemente.

Ele pode alegar, caso venha a ser indagado, e não faltará quem o faça, que “gato escaldado tem medo de água fria”. Os anos de clandestinidade devem lhe ter ensinado essa dura verdade.

Antônio pode, ainda na mesma linha de sua defesa, recordar que “o seguro morreu de velho, mas o desconfiado está vivo.” Só que vai, em verdade, enfatizar mais ainda a desconfiança geral. A opinião pública, hoje classificada em a,b,c, e d, conforme aferição nada humilde dos marqueteiros, não prima pela generosidade.

Salvo, dizem novamente os marqueteiros, no caso da aprovação do Governo Lula, blindado curiosamente pela película invisível do teflon. Mas isso é outra história.

Seus companheiros de luta no passado, os que sobreviveram, entre os quais devem haver muitos malucos, podem até mesmo recorrer ao militar japonês que até recentemente mantivera-se escondido, pelas mesmas razões, acreditando não ter acabado a Segunda Grande Guerra.

De tal forma que se amenize essa leitura, e não venha Antônio a ser classificado simplesmente, sumariamente como um paranóico transitado em juízo, um perseguido eterno, um maluco fora dos eixos, recorrendo a esta redundância.

Como um ex-marinheiro - pode-se questionar, sem contudo julgar, pelo amor de Deus - depois das formas mais abomináveis de covardia humana que é a tortura, da qual ele foi vítima exponencial, consegue escapar do trucidamento, vai para a Suécia, em l969, casa, tem filhos, constitui família e 40 anos depois continua vivendo sob o terror da perseguição?

Terror tão cruel que mesmo tendo sido golpeado, vamos reconhecer que de forma definitiva nunca, continua dobrando sua alma, sua espinha, toldando seus sentimentos mais simples. Não vamos nem mencionar Frei Tito, porque aí essa história fica mais perversa ainda.

A leitura do cidadão comum, do sujeito que na esquina comprou o jornal esta semana, leu a notícia, ou do outro surpreendido pelo telejornal, não pode ser diferente; esse cara virou maluco de carteirinha. Que fazer?

O que eles não sabem é que Antônio, como tantos outros companheiros de seu tempo, apostaram, e apostaram tudo, alguns morreram, outros como ele ficaram eternamente marcados, apostaram no fim do terror.

E não foi luta em vão, como querem alguns, até com certa leviandade.

Perderam? Talvez sim, talvez não. Se formos contabilizar as vitórias pessoais perderam tudo, ou quase tudo; família, amigos, país, memórias, e quem sabe uma juventude, senão uma vida inteira. Catalogar as perdas é tarefa dolorosa, e nem vale a pena tentar fazê-lo.

E, no entanto, nos deram este país maluco de hoje, onde apesar de todos os percalços, dos Sarney, dos Romero Jucá, dos Collor, dos Renan Calheiros, da corrupção impune e generalizada, de um PT que nos faz corar, mesmo assim se respira e pratica a Liberdade.

E só sabem o que isso significa os que viveram, dolorosamente, sua interdição.

E onde entro eu na porra dessa história? A indagação é correta, não é descabida. É que vendo as fotos de Antônio, as impressas e as dos telejornais, fui picado pelo diabo da memória, memória cruel, tantas vezes.

Paro, neste momento, até então aboletado num banco mixuruca, de escrever veleidades literárias, bobagens menores, platitudes, textos sem eira e nem beira. E não tenho feito outra coisa, ultimamente, e com tanto prazer.

Só que o diabo das fotos e imagens voltam a infernizar os meus olhos, e já agora minha memória.

Caceta, matei a charada. Antônio Geraldo da Costa era o Tigre, codinome de guerra, um neguinho moleque, ruidoso, que hospedei, melhor dizendo homiziei em meu conjugado da rua Sousa Lima, em Copacabana, nos idos de 68 e 69, e todo o seu grupo.

Eu era um abestado estudante da Filosofia, da Universidade do Brasil, atual UFRJ, com os olhos abertos e nenhuma história para contar, como faço agora, perplexo diante do mundo, recém-chegado do Acre, dos confins da Amazônia, onde o vento fazia a curva e o diabo teimava sempre aparecer.

Apesar de toda essa alienação, estupidez e caipiragem, tive o privilégio de hospedar Tigre e seu grupo, que passavam os dias realizando assaltos armados, invadindo penitenciárias e soltando guerrilheiros presos, elaborando mapas, estudando rotas de fuga, enfim, infernizando a vida homens que faziam a ditadura caminhar e merecer esse nome.

À noite dormia com eles todos, não enxergando, nem entendendo direito em que tudo aquilo iria dar. Ninguém deixava o Acre nos anos 50, e se deparava com as garras do terror, impunemente.

Ligava o rádio, sim, aquela era a época do rádio, e lá ouvia os âncoras das emissoras falando da crueldade, da barbaridade, de Tigre e seus parceiros.

Ria sozinho, até porque esse era um riso que não se podia dividir com ninguém, e pensava; será que a verdade é filha do tempo? Não era. Naqueles tempos a verdade era filha do Terror.

Dos riscos eu sabia, só não sabia a estupidez que é a tortura, onde logo depois de me despedir de Tigre e sua animada gente, eu também conheceria. De forma também nada generosa.

Enfim, só pra terminar. Ninguém tem o direito de rir da loucura de Tigre. Sua loucura é a loucura de Dom Quixote, do Rei Lear, a loucura dos visionários, a loucura que torna o homem possível, enfim. A loucura que sem ela, certamente a vida não teria sentido.

Sem ela talvez tivéssemos, quem sabe, até hoje, uma ditadurazinha amena, com alguns direitos, que o mundo já tanto nos mostrou, mas sem nunca deixar de ser Ditadura. A única diferença, talvez, é que os políticos lá atrás citados, não tivessem que padecer alguns aborrecimentos pontuais, constrangimentos eventuais, como agora vem acontecendo.

Só pra terminar, novamente; não vale a pena, não é honesto, rir da loucura do Tigre.

13 comentários:

Anônimo disse...

e a volta do auto-denominado "carcará", exilado em BSB? do que ele tem medo? hehehe

Anônimo disse...

Volta, carcará!

Anônimo disse...

é o el tigre ramirez do flamengo?

João da Ega disse...

Carcará é conhceido no mundo do futebol como Umamaraúma - Homem Gol !! hehehe

Anônimo disse...

que nada, está decadente. fracassou no S Raimundo, levou o Vasco pra segunda e agora foi tentar a vida no Gama.

Anônimo disse...

gostei do post dessa semana.

Anônimo disse...

Cadê o Ega? :p

Anônimo disse...

Esse blog tá as moscas! Que que é isso minha gente?! Queremos um post!!!

Anônimo disse...

Àqueles cansados das falsas promessas do João da Égua, proponho boicotar esse blog por tempo indeterminado.

Anônimo disse...

Uhhhhhhh...Fora Ega!! Reacionário e antipopular!

Anônimo disse...

Blog do Ega na série B dos blogs..

Anônimo disse...

Rumo à série C.

Anônimo disse...

NETVASCO - 28/08/2009 - SEX - 22:54 - VASCO PERDE PARA O CEARÁ NO MARACANÃ: 2 A 0