sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Infância no Parque 10 - Desagravo a Teupai (parte II)

O fato é que Teupai mudou. Continua fazendo o que fazia com a gente: protege os meninos. Os artífices (e culpados) de sua mudança somos nós, os meninos do Mirante do Parque 10. Ele nos salvara.

Isso se deu num lugar distante. Havíamos entrado na densa floresta. O mato marcava uma região liminar entre nossa cidade e o lugar que descobriríamos, por certo fantástico, a fronteira entre o que éramos e o que poderíamos ser. Por isso, em todas as tardes, explorávamos as possibilidades de alcançar o outro lado. Reuníamos armas (facas de cozinha e bombinhas de "São João") e água para as expedições. Por vezes, Teupai acompanhava o grupo. A técnica que usávamos para saber a distância do ponto de partida era o assobio da mãe de um dos meus amigos: ela chegava às seis da tarde e tentava localizar o filho. Nunca ouvíamos os assobios, mas já aguardávamos. Era a maneira de saber se estávamos longe, mui longe, ou perdidos. E acreditávamos no Fabian. Nosso método, em geral, funcionava. Quando o assobio não vinha, nosso amigo era acusado de desatenção e descuido. Apupado por todos, Fabian logo escutava o assobio. Tudo voltava à ordem e podíamos regressar.

Houve um dia em que chegamos aonde queríamos. Entramos numa fabulosa plantação de arroz (será assim o paraíso?). Uma estrada cortava o arrozal. Resolvemos seguir por ela. Assim fizemos até que vimos um grupo de crianças japonesas (ou descendentes de algum povo oriental) jogando xadrez. Eram, ao menos, sete duplas e aquilo nos chamou a atenção. Agrupados no pé de uma mangueira no centro de uma clareira cortada da plantação, os pequenos avistaram-nos e correram. E fomos atrás! Eles tinham medo, e nós os perseguimos.

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