domingo, 7 de fevereiro de 2010

mais dois blogs à lista lateral

Inspirado pelo blog Ciclovias em Friburgo, adiciono mais dois blogs à lista existente aqui do lado: 1) http://www.apocalipsemotorizado.net/ 2) http://ruaviva.blogspot.com/

Uma das militâncias a que me proponho abraçar é aquela por um espaço público mais vibrante nas cidades brasileiras. Quanto mais as pessoas se lançarem à rua deixando seus carros em casa (ou melhor, nem comprando-os), mais pressão será feita sobre as Administrações Públicas por transporte público mais eficiente, e mais a rua estará viva.

O quadro atual não é nada animador para o pedestre ou ciclista. O que talvez o pedestre de Brasília, por exemplo, mais sinta é menos a secura do clima, o calor do dia ou o frio da noite, mas temor pela solidão de seu ato. Poucos caminham. Há os que resistem: nem desses dias de certo temor em uma caminhada noturna, vi escrito em uma placa "Não tenha medo: seja consciente!". Achei fenomenal! Seguir andando é a luta!

Os sites que eu adiciono têm o perfil de valorizarem o espaço da rua, espaço das cidades.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

novidades em Brasília: bicicletas

Depois de um tempo em Brasília e Niterói (com as energias na Cidade Invicta), o Blog do Ega deverá mudar sua redação para a capital brasileira nos próximos tempos. A eterna capital fluminense tem, é claro, seu lugar na memória e na foto da camisa encontrada no Museu de Arte Contemporânea.

Muitas das coisas que percebia interessantes em Brasília somente agora ganham sentido: uma delas é a de adquirir uma bicicleta e fazê-la dela meio de transporte entre alguns pontos da cidade. Do apartamento para o lugar do futebol, para o parque, cinema, etc.

Comprei uma "voadora" e já dei algumas voltas pela cidade, por entre as superquadras da Asa Norte, em suas calçadas e ruas. Já me ajudou um bocado o fato de ter esse meio de transporte na atual busca por apartamento para alugar. Com ela é fácil cruzar o movimentadíssimo Eixão, grande via que separa as quadras pares das ímpares, o que torna possível visitar apartamentos das superquadras 200 e 400, mais baixos e próximos de Comerciais mais legais, com mais livrarias, cafés, papelarias e lojas mais baratas.

A grande maioria das pessoas residentes em Brasília dificilmente cruza o Eixão. Posso me orgulhar de já tê-lo feito tanto a pé quanto de bicicleta. "Cruzar o Eixão" significa mergulhar em uma passarela subterrânea e escura, muitas vezes amedrontadora, mas que conserva algo do sonho modernista que moveu a construção da cidade em questão. Quando de bicicleta, não fui policamente correto e avancei com minha máquina pela passarela, tentando não ganhar velocidade e respeitar ao máximo o espaço dos pedestres.

O ciclista na maioria das cidades brasileiras é um sujeito "liminar", está no limbo: nem barro nem tijolo, nem lobo nem lobisomem. Andar de bicicleta na calçada (pelo menos, cuidadosamente) não significa incomodar a todos, mas a uma pequena parte. Nas ruas entre as superquadras de Brasília, até agora fui sempre respeitado. A porção liminar de meu status surge nas saídas de uma calçada para entrar na rua, e quando tal saída coincide com uma das faixas de segurança que obrigam os motoristas brasilienses a darem sua vez para os pedestres: notei que quando isso acontece, os motoristas param como se o ciclista fosse um pedestre. Minha reação é a de me jogar na rua como um veículo.

De toda maneira, a impressões enquanto ciclista novo de Brasília são boas. Penso que as condições no cerrado são, no pequeno espaço no qual circulo (Asa Norte), melhores do que aquelas verificáveis em Friburgo, em Manaus ou Niterói. Lembro, por exemplo, do incômodo que os friburguenses têm com a circulação das bicicletas em suas calçadas, como apontou o blog dopedal.blogspot.com.

Por aqui, seguirei andando!

Revolução Molecular

Ensinam Deleuze e Guattari que a Revolução é molecular! Cada um agredindo o sistema para mudar suas configurações. A leitura do "Mil Platôs" dos dois é muito interessante: vale o esforço imposto pela densidade e pelo que há de hermético no texto.

O curioso é que na altura do ano já findo de 2009 em que lia o texto, relia Thoreau e algumas idéias anarquistas. Penso que do ponto de vista da ação para o mundo, o Mil Platôs ganhe um sentido mais vibrante dessa maneira.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

na luta sempre

Esse post não é para desanimar ninguém! Todo mundo deve militar pelas causas que considerar justas. Eu tenho as minhas.
O 11 de setembro passou e , em conversas com minha amada, lembrei de um fato ocorrido em Porto Alegre em 2003. O acontecimento não me desanimou e nem me fez deixar de olhar para o que eu acho que tem importância.
Sentado para ouvir as palavras do Noam Chomsky, tinha ao meu lado uma senhora chilena. Falei rapidamente sobre o 11 de setembro chileno e que teríamos que relembrá-lo sempre para que coisas como aquela não mais se repetissem.
A senhora, militante de esquerda, me perguntou seriamente: "que 11 de setembro?"
Imagino que isso tenha sido fruto de desatenção momentânea dela, mas o militantismo atrapalha, por vezes, a visão clara sobre muitos fenômenos no mundo.

sábado, 25 de julho de 2009

a democracia e a volta do Tigre

Se as velhas judias russas, que citei aqui há algum tempo, ainda não saíram da floresta para onde foram fugidas da 2a. Guerra Mundial (e há motivos para isso!), o ex-guerrilheiro José Geraldo da Costa, integrante da ALN de Marighela, só agora dá seu voto de confiança à democracia brasileira e volta ao país.
José Geraldo saiu do Brasil em 1969, fugindo da repressão da ditadura brasileira. Exilou-se na Suécia e por lá ficou esse tempo todo a observar os movimentos da política institucional brasileira.
Lembro que, em 2005, cheguei a vislumbrar a possibilidade de um novo golpe da direita no Brasil. O episódio do mensalão reacendeu a chama da oposição entre direita e esquerda no Brasil e acordou velhos golpistas. Peço ao leitor que tente compeender o ponto de vista do José Geraldo da Costa, conhecido como Tigre pela esquerda armada brasileira, e seu temor das instituições nacionais.
O golpe em Honduras, e outros movimentos direitistas na Bolívia, Venezuela, Equador, Nicarágua, apontam que a democracia exige defesa. Sem defesa, ela cai.
Tomara que a volta desse velho esquerdista seja um signo de nosso fortalecimento democrático!
Para fazer justiça, posto aqui o texto que me chamou a atenção para o fato citado. Foi escrito pelo nortista Edislson Martins e publicado no endereço http://blogdaamazonia.blog.terra.com.br/2009/07/24/nao-e-honesto-rir-da-loucura-do-tigre/:

No começo desta semana -eu e a torcida do Flamengo- tomamos conhecimento, via todas as mídias, da chegada ao país, do último exilado político do Brasil, o ex-marinheiro Antônio Geraldo da Costa.

Membro da Aliança Libertadora Nacional (ALN), criada por Carlos Marighela, Antônio, hoje com 75 anos, fazia parte da tropa de choque da organização. Tropa de choque, o chamado grupo armado, era o pessoal da pesada, das ações de desapropriação, do recolhimento de recursos -assaltos a banco.

Hoje fica difícil, quase impossível, passar a idéia do que isso significava, ainda mais tendo o Marighela no Comando.

Até aí nada de novo. Novo é a cobertura que a mídia, nacional e a estrangeira, está dando a esse retorno, e por uma curiosa singularidade; apesar de decorridos 40 anos desde sua fuga do Brasil, e tendo a Ditadura acabado há quase 25 anos, ele se recusava a retornar. Desconfiava que os tempos de terror e a longa noite prosseguiam, que a Ditadura continuava viva. Leitura imediata; louco de carteirinha.

Nada mais correto; aparentemente.

Ele pode alegar, caso venha a ser indagado, e não faltará quem o faça, que “gato escaldado tem medo de água fria”. Os anos de clandestinidade devem lhe ter ensinado essa dura verdade.

Antônio pode, ainda na mesma linha de sua defesa, recordar que “o seguro morreu de velho, mas o desconfiado está vivo.” Só que vai, em verdade, enfatizar mais ainda a desconfiança geral. A opinião pública, hoje classificada em a,b,c, e d, conforme aferição nada humilde dos marqueteiros, não prima pela generosidade.

Salvo, dizem novamente os marqueteiros, no caso da aprovação do Governo Lula, blindado curiosamente pela película invisível do teflon. Mas isso é outra história.

Seus companheiros de luta no passado, os que sobreviveram, entre os quais devem haver muitos malucos, podem até mesmo recorrer ao militar japonês que até recentemente mantivera-se escondido, pelas mesmas razões, acreditando não ter acabado a Segunda Grande Guerra.

De tal forma que se amenize essa leitura, e não venha Antônio a ser classificado simplesmente, sumariamente como um paranóico transitado em juízo, um perseguido eterno, um maluco fora dos eixos, recorrendo a esta redundância.

Como um ex-marinheiro - pode-se questionar, sem contudo julgar, pelo amor de Deus - depois das formas mais abomináveis de covardia humana que é a tortura, da qual ele foi vítima exponencial, consegue escapar do trucidamento, vai para a Suécia, em l969, casa, tem filhos, constitui família e 40 anos depois continua vivendo sob o terror da perseguição?

Terror tão cruel que mesmo tendo sido golpeado, vamos reconhecer que de forma definitiva nunca, continua dobrando sua alma, sua espinha, toldando seus sentimentos mais simples. Não vamos nem mencionar Frei Tito, porque aí essa história fica mais perversa ainda.

A leitura do cidadão comum, do sujeito que na esquina comprou o jornal esta semana, leu a notícia, ou do outro surpreendido pelo telejornal, não pode ser diferente; esse cara virou maluco de carteirinha. Que fazer?

O que eles não sabem é que Antônio, como tantos outros companheiros de seu tempo, apostaram, e apostaram tudo, alguns morreram, outros como ele ficaram eternamente marcados, apostaram no fim do terror.

E não foi luta em vão, como querem alguns, até com certa leviandade.

Perderam? Talvez sim, talvez não. Se formos contabilizar as vitórias pessoais perderam tudo, ou quase tudo; família, amigos, país, memórias, e quem sabe uma juventude, senão uma vida inteira. Catalogar as perdas é tarefa dolorosa, e nem vale a pena tentar fazê-lo.

E, no entanto, nos deram este país maluco de hoje, onde apesar de todos os percalços, dos Sarney, dos Romero Jucá, dos Collor, dos Renan Calheiros, da corrupção impune e generalizada, de um PT que nos faz corar, mesmo assim se respira e pratica a Liberdade.

E só sabem o que isso significa os que viveram, dolorosamente, sua interdição.

E onde entro eu na porra dessa história? A indagação é correta, não é descabida. É que vendo as fotos de Antônio, as impressas e as dos telejornais, fui picado pelo diabo da memória, memória cruel, tantas vezes.

Paro, neste momento, até então aboletado num banco mixuruca, de escrever veleidades literárias, bobagens menores, platitudes, textos sem eira e nem beira. E não tenho feito outra coisa, ultimamente, e com tanto prazer.

Só que o diabo das fotos e imagens voltam a infernizar os meus olhos, e já agora minha memória.

Caceta, matei a charada. Antônio Geraldo da Costa era o Tigre, codinome de guerra, um neguinho moleque, ruidoso, que hospedei, melhor dizendo homiziei em meu conjugado da rua Sousa Lima, em Copacabana, nos idos de 68 e 69, e todo o seu grupo.

Eu era um abestado estudante da Filosofia, da Universidade do Brasil, atual UFRJ, com os olhos abertos e nenhuma história para contar, como faço agora, perplexo diante do mundo, recém-chegado do Acre, dos confins da Amazônia, onde o vento fazia a curva e o diabo teimava sempre aparecer.

Apesar de toda essa alienação, estupidez e caipiragem, tive o privilégio de hospedar Tigre e seu grupo, que passavam os dias realizando assaltos armados, invadindo penitenciárias e soltando guerrilheiros presos, elaborando mapas, estudando rotas de fuga, enfim, infernizando a vida homens que faziam a ditadura caminhar e merecer esse nome.

À noite dormia com eles todos, não enxergando, nem entendendo direito em que tudo aquilo iria dar. Ninguém deixava o Acre nos anos 50, e se deparava com as garras do terror, impunemente.

Ligava o rádio, sim, aquela era a época do rádio, e lá ouvia os âncoras das emissoras falando da crueldade, da barbaridade, de Tigre e seus parceiros.

Ria sozinho, até porque esse era um riso que não se podia dividir com ninguém, e pensava; será que a verdade é filha do tempo? Não era. Naqueles tempos a verdade era filha do Terror.

Dos riscos eu sabia, só não sabia a estupidez que é a tortura, onde logo depois de me despedir de Tigre e sua animada gente, eu também conheceria. De forma também nada generosa.

Enfim, só pra terminar. Ninguém tem o direito de rir da loucura de Tigre. Sua loucura é a loucura de Dom Quixote, do Rei Lear, a loucura dos visionários, a loucura que torna o homem possível, enfim. A loucura que sem ela, certamente a vida não teria sentido.

Sem ela talvez tivéssemos, quem sabe, até hoje, uma ditadurazinha amena, com alguns direitos, que o mundo já tanto nos mostrou, mas sem nunca deixar de ser Ditadura. A única diferença, talvez, é que os políticos lá atrás citados, não tivessem que padecer alguns aborrecimentos pontuais, constrangimentos eventuais, como agora vem acontecendo.

Só pra terminar, novamente; não vale a pena, não é honesto, rir da loucura do Tigre.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Marketing: o blog é um sucesso!

O blog fez um teste: um pouco para que João da Ega, carente e saudoso, tivesse um motivo para se rejubilar, outro tanto para medir o que provoca mais (o escrito ou o não escrito?). Parece que o não escrito ganhou pontos. De toda maneira, a graça é escrever. Não tivemos a Bienal do Vazio?
Dessa forma, e depois do vazio, a promessa: um post por semana!
um abraço aos amigos do Ega!
João da Ega
ps: sabe o que o Fluminense falou pro Botafogo? Te vejo na segunda!!!

domingo, 31 de maio de 2009

anotações fortuitas: as velhas russas

Anotação na manhã de um dia chuvoso em Brasília:

Penso em duas velhas mulheres fugitivas da 2a. Guerra Mundial ainda escondidas em floresta isolada na Rússia. Sabem que ainda não se deu o fim das batalhas entre os exércitos, e das derrotas de uns e das vitórias de outros. Judias, fogem de todo contato possível com outros seres humanos. Uma delas, entretanto, está doente. É o início de uma mudança no mundo.