sábado, 13 de janeiro de 2007
Papillon (25/11/2006)
Recentemente, li “Papillon” do francês Henri Charriére. O livro é um libelo pela liberdade e pelo questionamento das verdades da sociedade ocidental. A todo momento, o autor pergunta a nós leitores se alguém pode ter a regalia de definir o futuro inteiro de outrem. O que daria legitimidade a um sujeito com tal poder de decisão? Povoa mais ainda o romance a possibilidade de recuperação individual. Qual o argumento capaz de convencimento a respeito da impossibilidade de um indivíduo, especialista em erros e atropelos ao longo da vida, acordar um dia e estar pronto a redimir-se dos antigos pecados? Ora, se todo mundo que reflete sobre os tempos atuais está convencido da “liquidez” (como diria Zigmunt Bauman) da vida, ou seja, que todas as certezas de um indivíduo ou tudo que o cerca, do mais abstrato ao mais institucionalizado dos elementos, pode mudar a ponto de o embasbacar e paralisar, também se pode partir do pressuposto de que o indivíduo outrora perigo para os outros da sua sociedade, pode mudar pra melhor. Não que eu me declare aqui um otimista em relação aos avanços da humanidade: matamos Sócrates, o melhor dos seres humanos. Mas a história do personagem principal, condenado à prisão perpétua aos 25 anos de idade na colônia francesa da Guiana aponta as possibilidades de resistir. Mesmo que tudo em volta o apontasse à eterna condenação, Papillon se convencia que sairia, fugiria e voltaria a ser livre. O livro é longo, como foi longa a vida de Papillon entre as grades, apesar de repetidas tentativas de fuga. Um dos trechos que mais me chamaram a atenção foi o momento em que o personagem é enterrado numa horrível cela, onde devia permanecer incomunicável. Papillon se dá conta que enquanto pudesse pensar e sonhar, estaria lá a resistir e contar os dias para próxima tentativa de fuga. Isso lembra muito o Thoreau que, mesmo preso, se considerava livre.Quanto ao autor Henri Chattiére, que foi realmente preso e fugiu da prisão na América do Sul, há polêmicas. Um jornalista brasileiro chamado Platão Arantes afirma, e parece ter argumentos pra isso, que Chattiére não é o verdadeiro autor do livro, e sim um outro francês René Belbenoit. Esse último, também fugitivo da Justiça francesa, teria morado em Roraima, e ao passar o livro para Chattiére que seguia pros Estados Unidos, perdeu o manuscrito. Chattiére teria olhado pro material, dado uma recauchutada e publicado. Quem quiser se informar, há sites por aí que dão conta da discussão. A despeito dessa discussão, vale a pena ler!
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