sábado, 13 de janeiro de 2007

ano novo!! (31/12/2006)

Quase num novo ano por essas bandas tropicais! Que seja um bom ano pra todos!!Depois de ficar massacrado pelo calor niteroiense, os ares da serra renovaram as esperanças.Renovadas as esperanças, coloco aqui um artigo escrito por mim e publicado pelo jornal "Estado do Amazonas".Já devo ter escrito sobre isso, mas a satisfação de escrever algo e ser lido por mais do que os integrantes de uma banca acadêmica é grande. Por isso, sempre fico feliz quando acontece!O artigo trata de um olhar sobre a realidade urbana e uma reflexão a respeito do imaginário de uma cidade protagonista de pelo menos dois grandes ciclos econômicos, mas que precisa se integrar ao mundo criando e propondo soluções endógenas, capazes de trazer à baila a maioria da população (sempre alijada do fausto econômico).É isso!Torço para que o próximo ano seja bom pro mundo, em especial, aos seres humanos mais próximos de mim.Feliz ano novo e abraço a todos!!


POR MAIS VOZES NA CIDADE
Noutro dia, tomei um táxi em Manaus. Num dia quente, as ruas da cidade estavam entupidas pelos carros. Depois de alguns minutos, perguntei ao taxista se aquele fenômeno era normal. Ele me disse que sim: todos os dias passava pelo mesmo. Perguntei o que ele achava daquilo. Respondeu-me que pensava que isso era inevitável já que a cidade estava crescendo e se modernizando. Dessa forma, a única coisa a fazer era esperar.
O episódio narrado demonstra o quanto a “modernização” de Manaus parece ocorrer à revelia de grande parte da população da cidade, como se fosse possível uma cidade se desenvolver sem a participação de seus habitantes em tal processo.
Tal alheamento de grande parte da população de um processo de modernização não é inédito em nossa história. Mesmo na historiografia sobre a realidade urbana de Manaus, não são poucos os relatos que põem em paralelo todo o fausto trazido pelo dinheiro da borracha à cidade, com melhoramentos que superavam os da então capital federal Rio de Janeiro, e a realidade muito distinta de outras partes da cidade distantes do circuito das óperas e cafés.
O atual fluxo modernizador tem como vetor básico o Pólo Industrial de Manaus. Manaus passa a ser vista e se identificar como uma cidade industrial, tecnológica, portanto antenada à rede das grandes cidades mundiais. Manaus, mais uma vez, se encontra num redemoinho que reúne vultosas quantias de seu parque industrial e uma péssima qualidade de vida de grande parte de sua população. Tal contradição profunda é conhecida por quem minimamente reflete sobre a condição sócio-econômica da população de Manaus e do Amazonas.
Chamo atenção aqui para uma outra dimensão capaz de revelar mais um aspecto da contradição que apontei acima. Não é raro ouvir ou ler discursos de atores sociais manauaras com acesso aos meios de comunicação que dão conta da inequívoca entrada de Manaus a um rol de cidades-pólo de alguns símbolos de poderio econômico. Quanto mais sofisticados restaurantes, lojas de grife presentes em importantes cidades do Brasil e do mundo, mais espaços caracterizados como globais, mais Manaus estaria inserida num quadro ideal de modernidade.
É evidente que a própria realidade oferece elementos para contrabalançar todo esse avanço. E se há uma característica que permita a uma cidade se pretender moderna é a complexidade de seus atores sociais e das relações entre eles. Tal realidade multifacetada não falta à Manaus. Ausentes são a inclusão e a legitimação no espaço público de uma maior quantidade de discursos de personagens de Manaus, o que poderá conferir às representações a respeito da cidade uma heterogeneidade que já lhe é peculiar.
Fundamentais nesse processo seriam o fortalecimento de entidades de classe (de sindicatos patronais ao de trabalhadores), do movimento estudantil, enfim de grupos que de alguma forma representassem as variadas visões a respeito de cidade e modernidade, além de fóruns de discussão que possibilitassem a reunião desses pontos de vista.
Não nos furtaríamos a ouvir as maravilhas da Manaus vivida pelos segmentos no topo da pirâmide social, mas escutaríamos os outros anseios da base da população.

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